Polêmica sobre ordenação feminina em Alagoas: “O mal de ter nascido mulher”
01-01-2010 12:42
Polêmica sobre ordenação feminina em Alagoas: “O mal de ter nascido mulher” | |||
“Desde o nascimento experimentamos o mal de ter nascido mulher, quando frustramos o desejo do pai e da mãe que esperava menino e veio menina. “A partir daí, segue-se uma sucessão de experiências sofridas no corpo e na alma, do mal de ter nascido mulher. Nas palavras de Ivone Gebara, as mulheres experimentam o mal de não ter, o mal de não poder, o mal de não saber, o mal de não valer... “O mal de não poder! Historicamente nós mulheres temos lutado contra esse mal: Não poder estudar, não poder trabalhar, não poder votar, não poder..., não poder..., não poder... “O mal sofrido pelas mulheres não é apenas aquela violência física, que agride o corpo, essa é logo reconhecida, porém existe aquele mal que se mistura com o bem de tal forma que já nem é mais visto como mal. É naturalizado. “Nas instituições religiosas, esse mal aparece assim, misturado com o bem e justificado "divinamente" e biblicamente, com afirmações simplistas e pouco aprofundado, como: "Deus fez assim!" ou "está na Bíblia!". Assim vai se perpetuando esse mal que continua fazendo suas vítimas a despeito do Evangelho libertador de Jesus Cristo. “Jesus foi de encontro às estruturas injustas e patrocinadoras do mal do seu tempo, inclusive as estrutura religiosas. Ele com toda certeza não aprovava as autoridades religiosas que se acreditavam separadas, santas, privilegiadas no ambiente sagrado do Templo e da religião. Estes consideravam as mulheres impuras e por isso as excluíam, mas ao contrário dessas autoridades religiosas, Jesus atraiu as mulheres para seu seguimento devolvendo-lhe poder e dignidade como filhas de Deus feitas à imagem e semelhança do criador. “É de se lamentar que nem mesmo o exemplo de Jesus de Nazaré não seja suficiente para eliminar esse mal de nossas estruturas religiosas, ele sempre reaparece e se recria. “Estamos nós hoje, como igrejas batistas em pleno século XXI, perpetuando esse mal na vida de mulheres que são chamadas por Deus para exercer o ministério pastoral, no entanto são impedidas, simplesmente, pelo mal de ter nascido mulher! “O jogo de empurra-empurra institucional parece ser a estratégia de ação. A Convenção Batista Brasileira reconhece a autonomia da Igreja local em relação à ordenação feminina, mas, a ordem dos pastores batistas do Brasil nega a filiação de mulheres que já foram legitimamente ordenadas por suas Igrejas e proíbe ou inibe as seccionais da ordem nos Estados a participarem de concílios de mulheres vocacionadas. “A coragem profética de alguns poucos em Alagoas resultou recentemente na ordenação de duas mulheres, mesmo depois da decisão da OPBB em Florianópolis que reafirmou que as mulheres ordenadas não serão reconhecidas e aceitas pela Ordem dos pastores batistas do Brasil. Porém, os ventos que sopram em nossas instituições agora são outros, e numa atitude de absoluto retrocesso e covardia, se recusa agora a realizar o concílio da missionária Cleide Galvão. E, por quê? Se ela tivesse nascido homem resolveria o problema? Se ela fosse homem o seu concílio estaria autorizado? Então, o mal dela foi apenas o de ter nascido mulher? “Se isso é "ordem"? Honestamente, eu prefiro a des-ordem!” * Odja Barros Santos é pastora da Igreja Batista do Pinheiro, em Maceió, Alagoas. |